Os perigos das redes sociais para as crianças e o risco da adultização infantil
- Joselina Santos

- 12 de ago.
- 4 min de leitura

Nos últimos anos, o acesso às redes sociais tem se tornado cada vez mais precoce entre as crianças. Com o avanço da tecnologia e a facilidade de conexão por meio de smartphones, tablets e computadores, é comum vermos crianças cada vez mais novas navegando no Instagram, TikTok, YouTube, WhatsApp e outras plataformas digitais. Apesar de oferecerem ferramentas importantes para o aprendizado e interação social, essas redes também trazem riscos significativos que merecem atenção especial, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento saudável das crianças.
O acesso precoce às redes sociais: um risco invisível
As redes sociais foram criadas para adultos, mas muitas vezes crianças conseguem acessá-las mesmo antes da idade mínima recomendada pelas plataformas (geralmente 13 anos). Muitas vezes, os pais liberam o acesso para que os filhos fiquem conectados com amigos, familiares ou até para entretenimento.
No entanto, essa exposição precoce pode ser prejudicial por diversos motivos:
Exposição a conteúdos inadequados: Crianças podem ser expostas a vídeos, imagens e conversas com conteúdo violento, sexualizado ou que contenham discursos de ódio, bullying e fake news.
Pressão por aceitação social: A busca por "likes", seguidores e aprovação gera ansiedade e baixa autoestima. As crianças começam a medir seu valor pelo número de curtidas e comentários, o que é uma comparação constante e desgastante.
Privacidade e segurança: Sem maturidade para entender os riscos, as crianças podem compartilhar informações pessoais sem cuidado, tornando-se vulneráveis a contatos predatórios e golpes.
Além disso, o uso excessivo das redes pode prejudicar o sono, a concentração na escola e as interações presenciais, impactando diretamente no desenvolvimento cognitivo e emocional.
Impactos das redes sociais na saúde mental infantil
Estudos recentes mostram que o uso intensivo de redes sociais pode estar associado ao aumento de quadros de ansiedade, depressão, isolamento social e problemas de comportamento entre crianças e adolescentes. Algumas razões explicam esse fenômeno:
Comparação social constante: Nas redes, há uma exposição controlada e muitas vezes idealizada da vida dos outros. Isso faz com que as crianças se comparem a padrões irreais, gerando frustração e sensação de inadequação.
Cyberbullying: O bullying virtual pode ser ainda mais cruel e difícil de escapar do que o bullying tradicional. As mensagens agressivas, piadas de mau gosto e exclusões em grupos virtuais afetam profundamente a autoestima.
Dependência digital: A necessidade constante de checar notificações, atualizar perfis e se manter conectado pode criar um ciclo de vício, prejudicando o equilíbrio entre vida online e offline.
Redução da empatia: A comunicação virtual reduz os sinais não verbais, essenciais para o desenvolvimento da empatia e da inteligência emocional, importantes para a convivência social.
Esses impactos não afetam apenas a saúde mental, mas também o desempenho escolar e as relações familiares.
O fenômeno da adultização infantil: o que é e por que preocupa?
Adultização infantil é o processo pelo qual as crianças são expostas precocemente a responsabilidades, conteúdos, comportamentos e situações típicas do mundo adulto. Isso pode ocorrer de várias formas:
Exposição a conteúdos adultos, como violência, sexualidade explícita e temas complexos, sem preparação emocional.
Expectativa de que a criança se comporte de maneira "madura", assumindo responsabilidades ou decisões que não condizem com sua idade.
Acesso irrestrito a redes sociais, onde interagem com adultos e conteúdos para adultos.
Pressão para que a criança tenha uma imagem “perfeita” e atenda a padrões estéticos e sociais impostos pela cultura digital.
Essa adultização precoce gera uma série de consequências negativas:
Perda da infância: A infância é um período fundamental para o desenvolvimento saudável, baseado no brincar, na curiosidade e na proteção. Quando as crianças são "forçadas" a agir como adultos, perdem etapas importantes de crescimento emocional.
Ansiedade e estresse: Assumir responsabilidades além da sua idade ou ser exposto a conteúdos complexos pode causar confusão, medo e sobrecarga emocional.
Dificuldades no desenvolvimento emocional: A criança pode apresentar problemas para reconhecer e lidar com suas emoções, prejudicando sua capacidade de resiliência e autocuidado.
Problemas de identidade: A pressão por seguir padrões externos pode causar baixa autoestima e insegurança, impactando a construção da identidade pessoal.
Como os pais e educadores podem agir para proteger as crianças?
Diante desses riscos, a atuação consciente dos adultos é fundamental para garantir o desenvolvimento saudável das crianças no mundo digital.
1. Estabelecer limites claros para o uso das redes
Defina horários para que as crianças possam acessar as redes sociais, equilibrando com outras atividades essenciais, como brincadeiras ao ar livre, estudos e sono.
2. Acompanhar e supervisionar o conteúdo consumido
Esteja presente para entender o que seus filhos estão vendo e conversando online. Utilize ferramentas de controle parental quando necessário.
3. Promover a educação digital
Ensine as crianças sobre os riscos da internet, a importância da privacidade, o respeito ao próximo e o pensamento crítico diante das informações.
4. Estimular o diálogo aberto
Crie um ambiente seguro para que a criança se sinta confortável para falar sobre o que vê, sente e pensa em relação às redes sociais e outros temas.
5. Valorizar a infância e o brincar
Incentive atividades que respeitem o tempo e as necessidades da criança, permitindo que ela explore sua criatividade, curiosidade e socialização fora do universo virtual.
6. Buscar apoio profissional quando necessário
Se perceber sinais de ansiedade, tristeza profunda, mudanças no comportamento ou dificuldades emocionais, não hesite em procurar a ajuda de psicólogos especializados.

As redes sociais fazem parte da nossa realidade e, inevitavelmente, fazem parte da vida das crianças também. O que diferencia o impacto delas é a forma como adultos responsáveis conduzem essa relação.
Garantir que as crianças tenham uma infância protegida, com espaço para crescer, aprender e errar, é o maior presente que podemos dar. A prevenção dos perigos das redes sociais e o combate à adultização precoce são passos fundamentais para que nossos pequenos cresçam emocionalmente saudáveis, conscientes e preparados para o futuro.



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