Bullying e Cyberbullying: As Marcas Invisíveis Que Precisamos Enfrentar
- Joselina Santos

- 20 de out.
- 4 min de leitura

Nos últimos anos, temos ouvido com mais frequência o termo bullying e, mais recentemente, o cyberbullying. Ambos os comportamentos carregam consequências sérias, deixando marcas emocionais profundas em quem é vítima, e exigem de nós, como sociedade, um olhar atento, empático e consciente.
Embora o bullying possa parecer, à primeira vista, algo “comum” entre crianças e adolescentes, ele é uma forma de violência psicológica, física e social que pode comprometer o desenvolvimento emocional, a autoestima e até a saúde mental da vítima. Já o cyberbullying amplia ainda mais o alcance dessas agressões, levando-as para o ambiente virtual, onde os limites entre a vida real e a digital se misturam, tornando o sofrimento ainda mais difícil de controlar.
O que é bullying, afinal?
O bullying é um comportamento repetitivo de intimidação, humilhação ou exclusão, geralmente praticado por uma ou mais pessoas contra alguém que se encontra em uma posição de vulnerabilidade. Ele pode se manifestar de diversas formas:
Física: empurrões, agressões, roubo ou destruição de pertences;
Verbal: apelidos pejorativos, insultos, provocações;
Psicológica: exclusão social, chantagem emocional, manipulação;
Virtual (cyberbullying): ataques, comentários ofensivos, exposição de imagens ou informações em redes sociais.
O que caracteriza o bullying não é um conflito pontual, mas a repetição das agressões e o desequilíbrio de poder entre quem agride e quem sofre. Esse desequilíbrio pode estar ligado à força física, à popularidade, à aparência ou até ao status social.
As consequências emocionais do bullying:
O impacto do bullying vai muito além do momento da agressão. Muitas vezes, as vítimas carregam por anos ou mesmo por toda a vida, as marcas psicológicas desse sofrimento.
Entre as consequências mais comuns estão:
Baixa autoestima e insegurança;
Dificuldade em confiar nas pessoas;
Ansiedade, depressão e isolamento social;
Queda no desempenho escolar ou profissional;
Em casos graves, pensamentos ou tentativas de suicídio.
Essas consequências não se limitam à infância ou adolescência. O trauma pode reverberar na vida adulta, afetando relacionamentos, autopercepção e até a forma como a pessoa se posiciona no mundo.
O bullying na era digital: o surgimento do cyberbullying
Com o avanço das redes sociais e da comunicação online, o bullying encontrou um novo espaço para se espalhar: o ambiente virtual. O cyberbullying é uma forma de violência que ocorre através de meios digitais como redes sociais, aplicativos de mensagens, fóruns e jogos online.
O que torna o cyberbullying tão perigoso é a velocidade e o alcance da internet. Uma ofensa, um vídeo ou uma imagem compartilhada podem viralizar em segundos, tornando impossível controlar quem viu ou reproduziu o conteúdo. Além disso, a anonimidade que a internet proporciona faz com que muitos agressores se sintam impunes.
As vítimas, por sua vez, passam a viver em constante estado de vigilância, medo e vergonha, sentindo-se expostas e desamparadas. Diferente do bullying tradicional, o cyberbullying não tem hora nem lugar ele invade a casa, o quarto, a rotina, e acompanha a vítima mesmo quando ela está sozinha.
A banalização da violência nas redes
Infelizmente, vivemos uma cultura em que a exposição e a ridicularização de outras pessoas se tornaram entretenimento. Vídeos de humilhações, “piadas” ofensivas, prints de conversas íntimas e comentários cruéis muitas vezes recebem curtidas, risadas e compartilhamentos e, sem perceber, participamos de um ciclo de violência.
A internet, que poderia ser um espaço de troca e aprendizado, acaba se tornando um ambiente onde a empatia é substituída pelo julgamento. E quando a dor do outro vira conteúdo, perdemos a noção de humanidade.
O papel da família, da escola e da sociedade
Prevenir e combater o bullying é uma responsabilidade coletiva. Família, escola, comunidade e sociedade precisam agir em conjunto para criar ambientes mais seguros e saudáveis.
A família deve estar atenta aos sinais de sofrimento emocional, mudanças de humor, isolamento, queda no rendimento escolar e oferecer um espaço de diálogo aberto e acolhedor;
A escola precisa promover uma cultura de respeito e empatia, com políticas claras de enfrentamento ao bullying e projetos que valorizem as diferenças;
A sociedade, por sua vez, deve repensar a forma como lida com o humor, a exposição e o julgamento. O que chamamos de “brincadeira” pode ser, para alguém, uma lembrança dolorosa e permanente.

Psicoterapia: um espaço de reconstrução
Para quem viveu experiências de bullying ou cyberbullying, a psicoterapia é um importante espaço de acolhimento e ressignificação. É ali que a pessoa encontra um ambiente seguro para falar sobre o que sentiu, compreender as feridas emocionais deixadas pelas agressões e reconstruir sua autoestima.
O processo terapêutico ajuda a recuperar a confiança em si mesmo e nos outros, permitindo que o indivíduo entenda que o que aconteceu não define quem ele é.
Pequenas atitudes que transformam
Falar sobre bullying é falar sobre empatia, respeito e responsabilidade. É reconhecer que cada palavra, gesto ou atitude pode impactar profundamente a vida de alguém, para o bem ou para o mal.
Precisamos ensinar (e praticar) o respeito às diferenças, o cuidado nas palavras e a importância de se colocar no lugar do outro. A internet e a convivência social podem (e devem) ser espaços de apoio, aprendizado e crescimento, e não de dor e exclusão.
Bullying e cyberbullying não são “fases”, nem “brincadeiras”. São formas de violência que precisam ser combatidas com consciência, diálogo e educação emocional.



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