Saúde Mental Masculina: Quebrando Tabus e Construindo Novos Caminhos
- Joselina Santos

- 29 de ago.
- 3 min de leitura

Durante muito tempo, falar sobre sentimentos foi considerado “coisa de mulher”. Homens eram ensinados desde a infância a reprimir emoções, não demonstrar fraqueza e carregar sozinhos seus problemas. Esse modelo, chamado muitas vezes de “masculinidade tóxica”, trouxe consequências sérias: dificuldade de pedir ajuda, maior vulnerabilidade a transtornos emocionais e índices alarmantes de suicídio entre homens.
Discutir saúde mental masculina não é apenas uma pauta social, mas também de saúde pública. Quanto mais falarmos sobre isso, mais homens poderão se sentir acolhidos e encorajados a cuidar de si.
Por que ainda é tão difícil para os homens falar sobre saúde mental?
Desde pequenos, muitos meninos crescem ouvindo frases como “engole o choro”, “homem não sente medo” ou “seja forte”. Essas mensagens vão moldando a forma como eles aprendem a lidar com as próprias emoções.O resultado é um ciclo de silêncio: homens sofrem, mas não expressam; se isolam, mas não pedem apoio. Essa dificuldade de abrir espaço para vulnerabilidade contribui para que sintomas de depressão e ansiedade sejam ignorados ou mascarados por comportamentos como agressividade, abuso de álcool, compulsão por trabalho ou vícios.
Sintomas que podem se manifestar de forma diferente nos homens
A depressão, por exemplo, costuma ser reconhecida pela tristeza profunda, apatia e choro frequente. Porém, nos homens, ela pode aparecer de outras maneiras:
Irritabilidade e explosões de raiva;
Cansaço constante e queda de produtividade;
Isolamento social;
Aumento do consumo de álcool ou drogas;
Foco excessivo no trabalho para “escapar” das emoções.
Essa forma diferente de manifestação faz com que muitos casos passem despercebidos, atrasando o diagnóstico e o início do tratamento adequado.
O peso da cobrança social
Outro fator que afeta fortemente a saúde mental masculina é a cobrança social. A ideia de que o homem deve ser o “provedor”, responsável pelo sustento e pela segurança da família, gera pressão intensa. Essa expectativa, somada ao medo de fracassar, pode levar a quadros de ansiedade e estresse crônico. No ambiente de trabalho, muitos homens evitam demonstrar fragilidade para não serem vistos como incapazes, perpetuando o ciclo de silenciamento.
Relações afetivas e a dificuldade de se abrir
Um dos grandes desafios para os homens é compartilhar suas vulnerabilidades em relacionamentos. Seja no casamento, na amizade ou na relação com os filhos, ainda existe a barreira do silêncio. Muitos têm dificuldade em expressar carinho, pedir apoio ou admitir inseguranças. Essa falta de comunicação emocional pode gerar distanciamento e até crises nos relacionamentos.
Por outro lado, quando homens conseguem se abrir, criam laços mais autênticos e fortalecidos. A vulnerabilidade não afasta, ela aproxima.
Paternidade e saúde mental
A chegada de um filho é um marco na vida de qualquer pessoa, mas os desafios emocionais da paternidade masculina muitas vezes passam despercebidos. Homens também podem sentir medo, insegurança e até desenvolver quadros como a depressão pós-parto paterna, que já é reconhecida por especialistas. A cobrança de ser um “pai perfeito” e, ao mesmo tempo, “forte e inabalável” aumenta ainda mais a sobrecarga emocional.
Caminhos para cuidar da saúde mental masculina
O primeiro passo é quebrar o silêncio. Reconhecer que sentir medo, tristeza ou fragilidade é humano, e não sinal de fraqueza. Algumas formas práticas de iniciar esse cuidado são:
Buscar psicoterapia: Espaço seguro para falar sem julgamentos;
Praticar exercícios físicos: Melhora do humor e regulação do sono;
Cultivar apoio social: Conversar com amigos e familiares de confiança;
Estabelecer limites no trabalho: Evitar jornadas exaustivas que funcionam como fuga;
Adotar pequenos hábitos de autocuidado: Dormir bem, alimentar-se melhor e incluir momentos de lazer.
A importância de novos modelos de masculinidade
Precisamos reconstruir o que significa ser homem. A verdadeira força não está em reprimir emoções, mas em ter coragem de enfrentá-las. Homens que se permitem sentir e pedir ajuda não são menos masculinos; ao contrário, são mais humanos. Quanto mais exemplos positivos surgirem seja em figuras públicas, no esporte, na mídia ou na vida cotidiana, mais fácil será para outros homens se identificarem e quebrarem os próprios tabus.

Cuidar da saúde mental masculina é urgente. Os índices de adoecimento mostram que o silêncio tem custado caro demais!
É hora de desconstruir a ideia de que o homem precisa ser sempre forte, inabalável e silencioso. Reconhecer as próprias fragilidades, pedir ajuda e expressar emoções são atos de coragem que salvam vidas. Que este seja um convite para que mais homens encontrem caminhos de autocuidado, e para que a sociedade inteira aprenda a acolher de forma mais empática.



Comentários